Coluna Diário de Viagem: pessach

Foto: Auiri/ Arquivo Pessoal

Passou o domingo eu sei, também sei que o medo constante desse mundo fosco de saudades e distâncias fez com que todos os dias anteriores se parecerem com um domingo eterno fechado em nossos corações. Alguém tinha me dito na noite passada: “O espírito, na verdade está pronto, mas a carne ainda é fraca”. Fiquei em botões comigo à pensar nos evidentes exemplos do invisível que ali descabiam.

Naquela vida de correria fechado em cláusulas, ia entardecendo as vontades que ainda estavam por vir, pareciam coisas ao avesso que nos ensinava pela dor. Olhava eu para ela pelos olhos dos outros, tinha desaprendido: fitar o céu, escutar o assobio dos pássaros, perceber o barulho dos ramos ao serem pisados; não acreditava mais nas tantas novas coisas íntimas que uma simultaneidade provocava. Só me restava a espera madura e a oração repetitiva:
Rouba me de ofertório,
e que em tuas mãos distraídas
a semana desenrole
de uma maneira leve e simples,
que tua graça me arme com asas,
e não mais erre sem que
esteja ao seu lado.
Amém!