Coluna Sal da Terra: as várias faces do Brasil

“Nenhum escritor pode dizer que está ausente da intenção de mudar o mundo”, diz Mia Couto

E o escritor é também um mediador, alguém que “coloca em diálogo, os diversos Brasis que existem no Brasil.

Tem sido esta a minha tarefa há muitos anos, quando lancei o livro: A Vila dos contadores de historias, falando da COLONIZAÇÃO brasileira.

Hoje venho conhecer a história dos povos Yanomami através de Rozélia Medeiros (CEA/SIMA)
Revisão: Rachel Azzari (CEA/SIMA), que são uma etnia de aproximadamente 35.000 indígenas que vivem em cerca de 200 a 250 aldeias na floresta amazônica, entre Venezuela e Brasil.

No Brasil, as aldeias Yanomâmi ocupam a grande região montanhosa da fronteira com a Venezuela, numa área contínua de 9,4 milhões de hectares, pouco mais de 2 vezes a área do Estado do Rio de Janeiro.

História do povo Yanomamis

Por volta do ano 1000d.C., os ancestrais dos atuais Yanomâmis ocuparam as cabeceiras do rio Orinoco e a serra Parima. Até o fim do século XIX, os Yanomâmis só mantinham contato com os grupos indígenas vizinhos. A partir do início do século XX, começaram a entrar em contato com não indígenas: extrativistas, missionários, soldados, funcionários do Serviço de Proteção ao Índio etc. A década de 1970 foi marcada por grandes projetos do governo brasileiro que geraram grande impacto na região: a construção da rodovia BR-210 (conhecida como Perimetral Norte), programas de colonização pública e o projeto Radambrasil, que detectou importantes jazidas minerais no território.

Sociedade Yanomâmis.

As aldeias, que podem ser constituídas por uma ou várias casas (malocas), mantêm, entre si, vários níveis de comunicação, desenvolvendo relações econômicas, matrimoniais, rituais ou de rivalidade. As suas malocas são casas comunitárias circulares chamadas yano ou shabono que podem acomodar até 4.000 pessoas. As áreas centrais das malocas são o espaço para festas e rituais. Os homens se ocupam principalmente da caça, enquanto as mulheres se dedicam à agricultura (banana, milho, mandioca, batata, frutas, tabaco, algodão) e à coleta de castanhas, larvas, mariscos e mel.

Durante o dia, o alimento é preparado em fogueiras, cada família tem a própria fogueira. A pesca é exercida tanto pelos homens como pelas mulheres. Cada comunidade é independente da outra, e tem como valor crucial a igualdade entre as pessoas. Não existem chefes nas aldeias: todas as decisões são tomadas por consenso após serem debatidas longamente, todos têm direito à palavra. A etnologia descreve-os como comerciantes e peritos em navegação nos rios amazônicos, historicamente sendo registradas viagens comerciais que atingiam as cidades de Manaus, Boa Vista e Georgetown. A sua religião baseia-se na visão pelos pajés de espíritos chamados xapiripë, através da ingestão de um rapé alucinógeno chamado yakoana ou yãkõana (Virola sp.). As festas costumam ser celebradas para marcar acontecimentos como a coleta da pupunha e os funerais (festa do reahu).

É a sétima maior etnia indígena brasileira, composta de quatro subgrupos: Yanomae, Yanõmami, Sanima e Ninam. Cada subgrupo fala uma língua própria. Em 2004, os Yanomâmis brasileiros fundaram a associação Hutukara (termo que significa “a parte do céu do qual nasceu a terra”) para defender seus direitos.

Dito isso, acrescento que ás vezes, a história de um país é atropelada pela dura realidade e tudo se modifica.

Escolhi esse tema porque é muito rico do ponto de vista da história, de coisas que são do passado, mas estão vivas no presente.

Colonização dos índios Yanomamis

A palavra colonização é usada para identificar um conjunto de práticas adotadas por um governo em relação a determinada região ou população. Fala-se em colonização quando existe alguma relação de domínio entre dois povos, no sentido territorial, político, cultural.

É uma situação histórica, pra mim muito particular, estamos na presença de dois Brasis, um dominado pela colonização européia, uma espécie de colonialismo do passado, e outro colonialismo brasileiro, do presente.

E assim vou fazendo pontes,abrindo horizontes em relação ao passado e o presente falando das várias faces do Brasil e fazendo uma sucinta abordagem sobre os diversos brasis, que ainda existem.