Em Montes Claros a tradição dos catopês continua, sem Mestre Zanza

Foto: A Influenciadora Digital, Marcia Silveira com o colunista Alex Junior

As festas de agosto são tradicionais e fazem parte da rica cultura local já é comum ver nas ruas os Catopês, Marujos e Caboclinhos desfilando com suas roupas coloridas e homenageando o Divino, São Benedito e Nossa Senhora, quando as festas terminam, o trabalho continua e se preparam para a próxima vez que irão desfilar pelas ruas da cidade. Já encaminham os nomes dos festeiros, mandam fazer as roupas, enfim, começam com todos os preparativos novamente. Cada participante tem sua roupa. “Catopês são pobres. Têm uma única roupa arrumadinha para sair aos domingos e acaba usando essa também para desfilar nas festas de agosto. Por isso, muitas vezes alguns já não possuem mais roupa e temos de arranjar outras”. Contava Mestre Zanza (que se tornou um ícone para toda a cidade, falecido em 2021 e deixa muitas saudades), o maior problema que atinge o grupo é a questão financeira a estrutura do grupo nesse aspecto ainda é precária, uma vez que a prefeitura ajuda muito pouco, com isso as pessoas geralmente contribuem com doações, muita gente compra fitas, panos e faz doações até mesmo estudantes de medicina também doam roupas brancas ao grupo dos Catopê.

– Meu avô que era escravo, porque o Catopê era uma dança de escravos, juntamente com meu pai que foram os percussores dos Catopês aqui na nossa região. Zanza sempre afirmou não ter previsão para deixar o grupo que tanto amou. E sempre afirmou já ter percussores para que a tradição nunca morra. -É uma emoção muito boa. Estou a muitos anos neste grupo. Para mim é uma obrigação manter o grupo vivo para manter também viva a tradição. Pretendo ficar no grupo até quando Deus permitir. Mas já estou ensinando aos meus filhos e netos para que possam me substituir no dia em que eu faltar – dizia Zanza, que cuidou do seu grupo até os seus últimos dias e deixou um grande legado. “Meus filhos falam que eu posso estar até doente, mas que quando estou no meu grupo de Catopês dançando pelas ruas da cidade e homenageando o divino, pareço ter o espírito de um jovem. A doença e todo mal então somem e surge um homem sadio e feliz desfilando pelas ruas de Montes Claros” comentava ele sorrindo.

Quem abraçou o grupo e se emocionou ao ir as ruas e representar o desejo do Mestre Zanza na continuidade das tradições foi a conhecida Influenciadora Digital, Psicóloga e empresária Márcia Silveira (Marcinha Silveira), que percorreu as ruas vestida a caráter realizando um pedido de Zanza ainda em vida, para que as tradições nunca morressem, Marcinha que se tornou um fenômeno da internet, usou toda a sua influência para angariar soluções, recursos e doações para o grupo dos Catopês para dar continuidade às tradições e garantir a realização de um grande sonho de Zanza, que deixou um legado de força, superação e de muita luta, o que vem sendo representado por Marcinha seus seguidores e admiradores. Marcinha ainda se emociona ao se lembrar do Mestre e afirma que levará seus ensinamentos e o seu desejo de manter as tradições dos Catopes por toda a sua vida, por onde passar e os legados do Mestra Zanza sempre serão lembrados, afirma a influenciadora que detém mais de meio milhão de seguidores em suas redes sociais sendo aclamada como a maior influenciadora de toda a região.

Alguns dos participantes do grupo foram iniciados aos 3 anos de idade, durante o ano viajam para outras cidades e regiões para apresentarem sua dança e se encontram com outros mestres para discutir sobre algo a respeito do grupo. Os Catopês são de origem africana, os negros, quando vieram escravizados, trouxeram consigo suas crenças e tradições e continuaram homenageando seus reis e cultuando seus deuses. Um desses reis foi o famoso “Chico Rei”, escravo na região de Ouro Preto, mas que era príncipe em sua tribo africana. Aqui, os seus súditos e companheiros de escravidão o fizeram rei e, de acordo com a tradição, comandava as festas de culto a seus deuses. Chico Rei tornou-se célebre por ter, juntando aos poucos ouro em pó que trazia das minas misturado aos cabelos, conseguiu comprar sua própria liberdade. Uma vez homem livre, conseguiu ainda a liberdade de vários de seus companheiros de infortúnio. Na falta de um rei verdadeiro, elegiam alguém, entre eles, para que os representasse e assim faziam o seu cerimonial. Como aconteceu com a macumba, o candomblé, a umbanda, os negros relacionaram seus deuses aos santos da Igreja Católica e passaram a cultuar Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.

Embora da mesma origem dos Congados, Moçambique e outros similares de outras regiões, o nosso Catopé, talvez por ter ficado isolado dos outros irmãos, com o tempo foi adquirindo características próprias, a começar do próprio nome, Catopê, que seria o nome da dança ou do ritmo, como o batuque. Os Catopês são um grupo de homens, a que chamam terno, adultos ou crianças. Apenas de poucos anos para cá algumas mulheres têm participado. Usam calças brancas, a camisa de manga comprida também branca. Na cabeça, um capacete enfeitado com espelhos, aljôfares e miçangas. Deste capacete, até quase ao chão descem fitas coloridas a larguras variadas. O capacete dos chefes, além desses enfeites, traz no topo penas de pavão. Como geralmente o capacete é feito pelo próprio Catopê, a sua aparência vai depender inteiramente do gosto de cada um e do poder aquisitivo para compra dos adornos, que na maioria é baixo. Mas, aquele cuidadoso, a cada ano, vai acrescentando alguma coisa, mais umas fitas, mais aljôfar e assim a tradição se renova ano após ano e nunca morre.