Anemia Ferropriva, mais do que uma doença, uma urgência médica!

Você sabia que a anemia por deficiência de ferro na primeira infância é extremamente nociva e pode deixar sequelas importantes e não reversíveis para toda a vida?

 

Entenda a importância do uso da formulação ferrosa na infância e o que fazer para evitar com que essas alterações ocorram!

A principal causa de anemia, sem dúvidas, é a deficiência de ferro, sendo a maior parte em crianças menores de três anos devido a velocidade de crescimento e desenvolvimento entre a fase pré-natal e esta idade.

Em 2021, um estudo observou preva¬lência estimada de anemia de 33% em crianças brasileiras, saudáveis e menores de sete anos, dados mais altos que em países europeus e inclusive países da América Latina.

Desde a gravidez, a deficiência de ferro tem repercussões importantes e de longo prazo no desenvolvimento de habili¬dades como aquisição de conhecimento, comportamentais, linguagem e capacidades psicoemocionais e motoras das crianças, sendo que o impacto negati¬vo permanece mesmo após o tratamento, por décadas, especialmente em crianças pouco estimuladas. Predispõem a cáries dentárias, alterações de visão, olfato, paladar, apetite, audição e alterações na imunidade.

Desta forma, esta anemia tem efeitos importantes por comprometer o desenvolvimento físico, imunológico e cerebral. O tratamento ocasiona melhora, mas ainda assim essas crianças podem não ter o mesmo desenvolvimento daqueles que não tiveram a deficiência de ferro.

A prevenção e identificação da anemia ferropriva trata-se, pois, de uma verdadeira urgência pediátrica.

Alguns fatores de risco para a deficiência de ferro em crianças e adolescentes podem ser destacados:
Em gestantes, a baixa de ferro por gestações anteriores, perdas de sangue, alimentação não adequada e não suplementação de ferro;
Bebês prematuros e em rápido crescimento, meninas com grandes perdas menstruais e atletas de competição;
Aleitamento materno exclusivo (sem introdução alimentar) além dos 6 meses, alimentação pobre em ferro, consumo de leite de vaca antes de um ano de vida, uso de fórmula infantil com baixo teor de ferro, dietas vegetarianas sem orientação;
Perdas sanguíneas em geral e má absorção intestinal do ferro por situações como doenças intestinais inflamatórias e alérgicas;
E mais importante, baixa adesão a suplementação do ferro quando indicada.

É importante que toda criança realize investigação de deficiência de ferro aos 12 meses de vida, independente de anemia. Se há suspeita de deficiência antes disso, a investigação deve ser pronta¬mente realizada, especialmente na ausência do uso adequado do ferro.

Desta forma, é importante realizar um pré natal adequado, orientar-se sobre aleitamento materno e a adequada introdução de alimentos nas fases certas com boas fontes de ferro.

A Sociedade Brasileira de Pediatria orienta, para bebês sem fatores de risco e em aleitamento materno exclusivo, a suplementação preventiva do ferro dos 6 aos 24 meses de idade. Qualquer outra situação deve ser avaliada pelo pediatra, uma vez que em certos casos a suplementação deverá começar aos 3 meses de vida. Já bebês prematuros seguem recomendações especificas.

Se há deficiência de ferro, esta deve ser prontamente tratada. Importante que os profissionais estejam atentos e que os pais e cuidadores administrem a suplementação de forma recomendada.

Dra Juliana Cerqueira
Hematologista e hemoterapeuta pediátrica